Minidrone fotográfico: o substituto do pau de selfie para smartphones
Vem aí a era dos aparelhos afeitos a tirar retratos inusitados e de altíssima qualidade
Como tantas outras tecnologias, os drones foram gestados no ventre militar para espionagem e vigilância. No início, eles só funcionavam por controle remoto, até que a revolução dos softwares lhes conferiu autonomia, dispensando supervisão humana. Segundo o banco Goldman Sachs, o mercado de veículos aéreos não tripulados hoje é de 100 bilhões de dólares, sendo que 70% dele está nas Forças Armadas. Conforme a miniaturização avança, porém, a balança vai pendendo para o lado civil. Assim como o celular deixou de ser apenas telefone para se tornar máquina fotográfica, os minidrones estão destinados a se tornar acessório fundamental para quem gosta de tirar foto de si mesmo ou junto da família e amigos, sem o inconveniente de pedir ajuda a estranhos, esticar o braço ou usar os horrorosos paus de selfie, bastões que acabam sendo abandonados ou esquecidos em casa.
Há drones dos mais diversos tipos à venda, mas, a menos que se trate de um fotógrafo profissional, ninguém anda por aí carregando equipamentos frágeis e caros que, por menores que sejam, não cabem no bolso. Por esse motivo, a fabricante chinesa Vivo entrou com um curioso pedido de patente na Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi): um smartphone com minidrone fotográfico embutido. A patente causou alvoroço quando o designer indiano Sarang Sheth, de posse das especificações da Ompi, criou uma imagem tridimensional do que seria o novo aparelho, equipado com um minidrone de quatro hélices, que, uma vez acionado, voa em torno do usuário, tirando fotos de ângulos inusitados.
A imagem renderizada, no entanto, escamoteia obstáculos difíceis de ser superados. Um smartphone X60, da própria Vivo, tem 16 centímetros de comprimento, 7,5 de largura e apenas 7 milímetros de espessura. Assumindo que, definitivamente, o consumidor não aceitará trambolhos, os chineses teriam de chegar a um nível de miniaturização sem precedente, criando um drone não muito maior que uma caixa de fio dental. Por outro lado, a Vivo tem a seu favor o fato de ser uma das maiores fabricantes de celulares do planeta e de ter firmado parceria em pesquisa e desenvolvimento com a Zeiss, centenária empresa alemã de sistemas ópticos.
Nesse ínterim, enquanto o produto sino-alemão flutua no impasse, uma startup londrina, batizada com o intuitivo nome de AirSelfie e impulsionada por uma milionária campanha de crowdfunding (financiamento coletivo), já entregou a 36 000 clientes aquele que é alardeado como o menor drone fotográfico do mundo, com 10 centímetros de comprimento, 8,5 de largura e apenas 1,3 de espessura. Lançado em 2017, o aparelho já está na terceira geração, agora chamada de Air Pix. Apesar de não vir embutido em celular, ele merece o epíteto de pocket drone, pois cabe no bolso. É impressionante como os engenheiros conseguiram embutir câmera de imagem e vídeo de alta resolução em um minúsculo dispositivo que ainda tem cartão de memória e bateria que o sustenta no ar por seis minutos. O Air Pix pode ser pilotado por meio de aplicativo ou colocado no modo autônomo, no qual fica tirando fotos ou gravando. Se o usuário quiser, poderá até dispensar o celular, já que sensores atendem a comandos de aproximação e afastamento por gestos.
Apesar de o dispositivo ter chegado neste ano a um preço acessível de venda (119 dólares no site da empresa), a AirSelfie enfrenta queixas dos financiadores que ainda não receberam seu produto. A fabricante, no entanto, garante que todos terão seu drone e que, assim que a produção ganhar escala, ele estará à venda em todo lugar, inclusive no Brasil. Por enquanto, o único jeito de ter um é importando, com taxas de frete e impostos que dobram o custo — isto se o produto estiver disponível. Aparentemente, o pau de selfie, que custa menos de 20 reais no varejo, continuará sendo útil, até que a tecnologia o faça desaparecer no ar.
Publicado em VEJA de 4 de agosto de 2021, edição nº 2749