Em junho, VEJA visitou em Barcelona, na Espanha, um dos centros de monitoramento de publicações do Facebook. Lá, conheceu um exército de 800 funcionários terceirizados que ficam posicionados para atuar como “revisores de conteúdo”, em uma tarefa diária de monitorar se os usuários, infringindo as regras que orientam a publicação de posts, estão colocando no site, por exemplo, mensagens contra minorias sociais, ou de incitação à violência. Em um dos relatos ouvidos sob anonimato pela reportagem, um brasileiro que trabalha no centro catalão admitiu que a tarefa não era fácil: “O que vejo aqui de expressões de violência está me fazendo perder a fé na humanidade. Na verdade, já perdi”
Segundo reportagem publicada nesta terça-feira, 17, pelo jornal britânico The Guardian, a situação pode ser ainda mais grave para os trabalhadores desse departamento da rede social de Mark Zuckerberg. O jornal ouviu ex-empregados e funcionários atuais, que relataram diversas situações de estresse no trabalho. Alguns disseram que testemunharam colegas de um centro de moderação em Berlim, na Alemanha, se tornarem viciados em olhar fotos e vídeos abomináveis. Alguns, inclusive, salvavam parte desse conteúdo para depois acessá-los, para fins de cunho pessoal.
Também existem empregados que acabam sendo influenciados pelo discurso de ódio e pelas notícias falsas que deveriam censurar. Outros passaram a se sentir indiferentes em relação a conteúdos violentos, sexuais, ou que promovam bullying. No trabalho, os moderadores tinham acesso, por exemplo, a conversas entre adultos e menores de idade. As de teor pedófilo eram identificadas pelos algoritmos do Facebook como de conteúdo sexual. Em 90% dos casos, essas conversas eram, de fato, conduzidas por pedófilos, criminosos.
“Existem homens brancos e ricos da Europa e dos Estados Unidos escrevendo para crianças das Filipinas. Eles tentam conseguir fotos em troca de 10 ou 20 dólares”, relatou ao Guardian um ex-moderador do Facebook.