Ao longo dos últimos anos, o mercado das startups tem encontrado terreno fértil no Brasil: se, em 2012, havia 2 519 empresas do tipo no país, em 2017 o número saltou para 5 147. No entanto, basta olhar para os chefes dessas startups para constatar a falta de mulheres no ramo: apenas 15,7% das startups brasileiras foram fundadas ou cofundadas por mulheres. No entanto, o cenário parece estar prestes a mudar.
É o que reflete, por exemplo, o sucesso da RadarFit, startup criada por três belo-horizontinas de 25, 27 e 28 anos e que recebeu, em janeiro, um investimento milionário de um fundo. A empresa criou um aplicativo de saúde que combate o que, segundo as brasileiras, é o maior problema enfrentado por quem almeja um corpo mais saudável: o tempo entre o exercício praticado e a observação de algum resultado.
Assim, o app gratifica o usuário imediatamente após o cumprimento de algumas missões, que vão desde meditação e atividades físicas (como uma caminhada) até sugestões de refeições saudáveis. Depois de cumpridos os desafios, o aplicativo recompensa o indivíduo com medalhas e moedas que, quando acumuladas, podem ser trocadas por prêmios, como eletrônicos e passagens aéreas.
Encabeçada por três mulheres, a empresa teria enfrentado grandes dificuldades para obter sucesso há alguns anos. Mas a maré parece estar mudando — pelo menos no que diz respeito ao mercado de startups. De acordo com um levantamento publicado em outubro do ano passado pela organização norte-americana Kauffman Fellows Research Center, as empresas com equipes diversas e liderança de equipe femininas recebem, em média, 21% mais investimentos de companhias de capital de risco do que aquelas que possuem apenas chefes homens.
Mas o otimismo que os dados inspiram não significa que a situação já é harmoniosa. Ainda há muito o que se fazer para equalizar as oportunidades dadas a ambos os sexos no meio das startups.
“Empreender como mulher é sempre um pouco mais árduo. Temos que mostrar maior credibilidade, porque parceiros e clientes tendem a confiar menos na gente. É raro encontrar alguém que não tenha problemas com ter uma mulher na liderança de uma empresa”, disse a VEJA Jade Utsch, cofundadora da RadarFit e estudante de engenharia na FGV. “Ainda precisamos nos provar dez vezes mais do que um homem que estivesse na nossa posição.”
Como saída para a competitividade e injustiças praticadas no mercado, Jade aponta a ajuda prestada entre grupos de mulheres. “Temos desenvolvido muita parceria e companheirismo na área, na qual ainda falta solidariedade profissional”, afirmou.
E sua opinião é fundamentada: de acordo com outro estudo do Kauffman Fellows Research Center, startups com pelo menos uma fundadora do sexo feminino tendem a contratar 2,5 vezes mais mulheres do que as outras empresas. Assim, constroem-se companhias equilibradas, com pessoas de ambos os sexos nos conselhos e em cargos de chefia.
Mas se engana quem acha que apenas um dos sexos tem algo a ganhar com uma maior diversidade no mercado. Uma pesquisa feita em 2017 pela empresa de consultoria norte-americana McKinsey & Co indicou que empresas com maior pluralidade de gêneros entre suas equipes executivas apresentavam chances 21% maiores de serem mais lucrativas.
Desse modo, fica claro que o meio de startup tem passado por mudanças que lhe permitiram tornar-se mais inclusivo, embora ainda esteja longe da igualdade. Quanto mais diversas forem essas empresas, melhor — para seus sócios e também para a sociedade, que estará melhor representada. Até então, a dualidade presente no meio, que simultaneamente exclui e recompensa mulheres, seguirá prejudicando a eficiência das empresas.