É comum ouvirmos que a inteligência artificial (IA) será tão revolucionária quanto foi a internet. O senhor concorda com essa afirmação? Acho que ainda não entendemos completamente todas as nuances das IAs, em particular, do potencial do que chamamos de alucinações (erros nas respostas geradas pelos modelos). É claro que os resultados são impressionantes, mas o que as IAs fazem é responder da maneira que elas imaginam que um humano faria. Isso não deve ser compreendido como um entendimento verdadeiro da realidade.
Em que fase do desenvolvimento dessa tecnologia nós estamos? Acho que o entusiasmo inicial está diminuindo e as pessoas estão começando a fazer mais perguntas sobre como os modelos funcionam, ou melhor, não funcionam. Temos muito a aprender.
Chegamos mesmo ao momento em que as IAs poderão superar as capacidades humanas? Meu medo não é que as máquinas dominem o mundo, mas sim que nós possamos transferir a elas mais autonomia do que devem ter. Se as usarmos de forma irresponsável, podemos permitir que tomem decisões autônomas que afetem a vida das pessoas de forma inadequada.
O que é possível fazer para evitar que isso aconteça? Precisamos entender para quais aplicações há garantia de que os interesses e a segurança das pessoas serão protegidos. Os fornecedores de serviços gerados por meio desses modelos também devem ser responsáveis pelo uso seguro deles. No uso para diagnóstico médico, por exemplo, os fornecedores deverão ser responsabilizados pelos riscos.
Qual balanço o senhor faz da história da internet? A internet fornece acesso à informação em escala e conveniência sem precedentes. Contudo, também vemos seu poder de poluir o ecossistema digital com conteúdo duvidoso ou incorreto.
E como lidar com as consequências negativas? É preciso pensamento crítico por parte dos consumidores. O uso ingênuo da internet tem, sim, o potencial de ser muito prejudicial e muito perigoso.
Já chegamos ao limite do uso dessa tecnologia? Acho que a internet continua evoluindo e está amadurecendo em termos de aplicações confiáveis. A internet das coisas, por exemplo, é um campo com muito potencial de evolução.
Publicado em VEJA de 21 de junho de 2024, edição nº 2898