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O fim do patinete Segway e as invenções que não vingaram

Após fiasco de vendas e problemas de segurança, a empresa aposenta um símbolo de modernidade. Na nova era tecnológica, fracassos são cada vez mais comuns

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 13h57 - Publicado em 10 jul 2020, 06h00

O engenheiro americano Dean Kamen tem 440 patentes registradas em seu nome, mas nenhuma delas provocou tanto alarido quanto o patinete elétrico Segway. Com duas rodas paralelas, o dispositivo “seria para o carro o que o carro foi para os cavalos e carruagens”, segundo disse o inventor ao lançar o produto, em 2001. De fato, muita gente acreditou que o novo veículo mudaria o transporte urbano para sempre. Era, afinal, ágil para a locomoção nas grandes cidades e poderia ser usado em diversas situações, como por agentes de segurança em shoppings, funcionários de redes de supermercados ou em atividades de lazer. Mas deu errado. O patinete esquisitão não apenas deixou de cumprir a proposta de melhorar a mobilidade urbana como apresentou falhas de funcionamento que comprometeram a sua adoção em larga escala. O resultado não poderia ter sido pior. Com a crescente desconfiança dos consumidores, as vendas empacaram e as perdas financeiras se sucederam. Há alguns dias veio o tombo definitivo: a Segway Corporation anunciou que deixará de fabricar o patinete.

Os fracassos são parte indissociável do mundo corporativo. É raro, para não dizer impossível, encontrar uma grande corporação que não tenha tropeçado ao longo do caminho. “O que distingue as firmas verdadeiramente excelentes, em contraste até mesmo com aquelas meramente bem-sucedidas, não é a ausência de dificuldades, mas a capacidade de sair das quedas”, escreveu o guru da administração Jim Collins no best-seller Como as Gigantes Caem. Símbolo máximo da era digital, o Google não se deixou abater por erros retumbantes. O maior deles talvez tenha sido o Google Glass, os desajeitados óculos de realidade aumentada que permitiriam aos usuários tirar fotos, enviar mensagens e realizar videoconferências. Lançado em 2013, o gadget não emplacou por uma razão que, analisada a distância, parece óbvia: o aparelho não oferecia quase nada que um smartphone já não fizesse. Mesmo assim, o Google insistiu no projeto. Estima-se que as vendas dos tais óculos tenham rendido 10 milhões de dólares, uma ninharia perto das centenas de milhões de dólares que a empresa desembolsou no seu desenvolvimento. A produção do Google Glass foi suspensa em 2015, mas retomada em 2017. Uma nova edição foi lançada no ano passado, ainda sem gerar entusiasmo entre o público.

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Diversos motivos explicam um revés dessa natureza. Muitas vezes, as empresas falham por não identificar os anseios de quem realmente importa — o cliente. “Não se pode priorizar a tecnologia em si e esquecer o comportamento e as vontades do consumidor”, diz Helton Haddad Silva, professor de marketing da Fundação Getulio Vargas. O Blu-Ray é um caso clássico da falta de sensibilidade dos fabricantes. Ele foi desenvolvido em conjunto por empresas como LG, Panasonic, Philips, Pioneer, Samsung e Sony, que imaginaram que seria suficiente criar um aparelho capaz de reproduzir vídeos com qualidade de imagem superior à dos tradicionais DVDs. O problema é que o Blu-Ray custava caro demais, em geral o dobro de seu concorrente mais modesto, e os consumidores se incomodaram com isso. Para piorar, logo surgiriam os serviços de streaming, que o enterraram de vez. “A velocidade do desenvolvimento tecnológico tornou os fracassos mais comuns”, diz Fabio Kon, cientista da computação e professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo. Ou seja: uma inovação que hoje é considerada extraordinária será substituída amanhã por outra ainda melhor.

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O patinete da Segway reuniu todos os requisitos para um produto naufragar. Vendido por 5 000 dólares (cerca de 26 500 reais), custava o equivalente a um carro usado e mais do que uma bicicleta convencional. Esbarrou também na falta de regulamentação: sua estrutura era robusta para as calçadas apertadas dos grandes centros urbanos, ocupando um espaço que deveria ser dos pedestres. O grande entrave, porém, foi a questão da segurança. Em 2003, o então presidente americano George W. Bush caiu enquanto testava o veículo e o corredor jamaicano Usain Bolt foi atropelado por um cinegrafista após vencer uma prova no Mundial de Pequim, em 2015. O caso mais grave ocorreu em 2010. Um ano depois de o empresário James Heselden comprar a Segway Corporation, ele despencou de um penhasco ao perder o controle de seu patinete e morreu. Tragédias como essa mostram que o veículo demorou tempo demais para ser retirado definitivamente do mercado.

Publicado em VEJA de 15 de julho de 2020, edição nº 2695

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