Velozes e divertidos: os carros que viram salas de cinema sobre rodas
Versões top de linha de carros chineses e alemães ganham sistemas de entretenimento para os passageiros
Nos últimos anos, as tecnologias que auxiliam motoristas avançaram de maneira incontestável. Até modelos intermediários contam com mecanismos como piloto automático, controles de velocidade, aviso de mudança de faixa, sistemas de navegação e acionamento de comandos por voz. Além de facilitar a vida de quem guia um carro, as inovações tornam a viagem mais segura e prazerosa. A mesma constatação não pode ser feita a respeito dos sistemas de entretenimento para os demais ocupantes. Com exceção dos equipamentos de som, que oferecem potência e conexão com variados canais de streaming, quem viaja no banco de trás quase sempre precisa encontrar seus próprios passatempos. A boa notícia é que tal realidade está prestes a mudar. Novos modelos que começam a chegar ao mercado internacional apontam para engenhocas imersivas capazes de tornar o interior dos veículos pequenos cinemas sobre rodas.
A China encabeça o movimento. O sistema mais impressionante é o Air AR, da fabricante NIO, de carros elétricos. Os óculos de realidade aumentada contam com fones de ouvido e oferecem uma sala de cinema virtual de 130 polegadas, projetada à frente do usuário e embalada por som surround. O sistema inclui um catálogo de filmes, parte deles em 3D. Por enquanto, trata-se de uma versão limitada a apenas 500 exemplares — o sucesso da empreitada dirá se a tecnologia entrará no portfólio oficial. Por sua vez, a também chinesa XPeng, um dos concorrentes mais ferozes da americana Tesla na área de inovação automotiva, usou seu SUV elétrico G9 para criar uma parafernália com 22 alto-falantes e que produz vibrações nos assentos. “A China virou referência global quando o assunto é tecnologia automobilística”, afirma Cássio Pagliarini, consultor da Bright Consulting, especializada no setor. “O país já é o maior produtor de carros eletrificados do mundo e é natural que traga inovações ao mercado.”
Como não poderia deixar de ser, a tendência concentra-se no universo de veículos de luxo, que funcionam como porta de entrada para invenções que mais tarde vêm a se disseminar. Em seu novo Série 7, a alemã BMW instalou uma tela 8K de 31 polegadas para os passageiros no banco de trás, que podem ver filmes e controlar os serviços disponíveis por meio de tablets que repousam nas portas. A conterrânea Audi lançou o sistema interativo Holoride, que utiliza dados do próprio veículo, como aceleração e frenagem, para fornecer uma viagem digital imersiva. Por enquanto, os sistemas estão sendo testados de forma limitada, apenas em versões top de linha, e ainda não estão disponíveis no mercado brasileiro.
A maior preocupação dos especialistas diz respeito à segurança. Distrações em excesso podem interferir no trabalho do motorista, algo já perceptível em modelos que oferecem painéis de controle ultratecnológicos, por exemplo. Em qualquer país, as regras de trânsito pressupõem que o condutor não tenha motivos para olhar para outro lugar que não seja a via e seus entornos. Não à toa, as grandes inovações no entretenimento interno destinam-se aos passageiros, especialmente os ocupantes da segunda fileira. Óculos de realidade aumentada e fones de ouvido são opções que os fabricantes testam para evitar que motoristas espiem o que está sendo exibido no banco de trás. No futuro, é possível que a popularização dos veículos autônomos destrave de vez as inovações nos sistemas de diversão de bordo, já que os carros se movimentarão sozinhos. Enquanto tal cenário se mantém distante, a brincadeira só vale para quem não está ao volante.
Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817