“A Favorita”: o mais original, instigante e cativante do Oscar
Com sua inteligência, seu humor e suas três atrizes em ponto de bala, filme do diretor Yorgos Lanthimos está em uma classe à parte
Quem viu ‘Dente Canino’, ‘O Lagosta’ ou ‘O Sacrifício do Cervo Sagrado’ sabe que o cineasta grego Yorgos Lanthimos é um desconstrutor de convenções. Não só no jeito de filmar (e ele manja tudo sobre filmar), mas na maneira como olha as normas e as regras que aceitamos como se fossem mais do que isso – como se fossem destino, por mais absurdo que, observado com atenção, ele se revele (em ‘O Lagosta’, por exemplo, quem não acha par amoroso dentro de um prazo determinado é obrigado a virar um animal de sua escolha).
E quem não viu nenhum desses filmes vai poder entrar na toca do coelho que é o cinema de Lanthimos pela sua porta mais deliciosa, divertida, trágica e fascinante até aqui: ‘A Favorita’. A extraordinária Olivia Colman é a rainha Anne, frágil, confusa, carente e em tudo dependente de Lady Sarah Churchill (Rachel Weisz) – inclusive no amor e no comando da Inglaterra. Isso até a jovem Abigail Hill – Emma Stone, pegando fogo – entrar na parada e, fazendo-se de meiga e prestimosa, observar como funciona esse jogo para então ganhá-lo.
A história é real. Mas Lanthimos ao mesmo tempo faz um filme de época (é o início do século 18) e faz de tudo, também, para tirar você desse conforto que é o drama que já ganhou aquela camada de poeira do tempo. Nunca vi três atrizes partirem para cima de seus papéis, e para cima uma da outra, com essa garra e essa liberdade. Se você for ver um só dos indicados ao Oscar de melhor filme deste ano, que seja este aqui.