‘Vingança a Sangue Frio’: um faroeste contemporâneo cercado de neve
Acompanhe o 'Em Cartaz' dessa semana com a colunista de VEJA Isabela Boscov
No ‘Em Cartaz’ dessa semana, a colunista de VEJA Isabela Boscov comenta a estreia da semana: ‘Vingança a Sangue Frio’. É uma pena que Liam Neeson tenham jogado uma bomba em cima de Vingança a Sangue Frio com suas declarações infelizes para o jornal inglês The Independent: este é um filme bacana, mas pequeno, sem força para sair de debaixo dos escombros que seu ator principal empilhou sobre ele. É, na verdade, dois filmes bacanas: o que o diretor norueguês Hans Peter Moland faz aqui é replicar um trabalho seu de 2014, O Cidadão do Ano, trocando apenas a ambientação (da Noruega para o estado americano do Colorado) e o elenco (de Stellan Skarsgard para Neeson). Ele é Nels Coxman, um sujeito de poucas palavras e dado a ficar na sua – e uma espécie de herói na sua cidadezinha nas Montanhas Rochosas, já que, sem seu limpa-neve, os moradores ficariam sem comunicação com o mundo durante todo o inverno.
Nels é metódico no trabalho e também na vingança: quando seu filho inocente é assassinado por traficantes, ele sai matando todos os envolvidos, um a um, por ordem hierárquica, de baixo para cima. À medida que a contagem de corpos escala, duas gangues rivais, uma de americanas e outra de índios, atribuem às fatalidades uma à outra e partem para a guerra. Não há dúvida de que o diretor admira muito Quentin Tarantino (no humor sardônico no meio do banho de sangue) e, mais ainda, Sergio Leone, cujos faroestes-spaghetti compõem muito da inspiração – junto com os faroestes morais dos anos 50 e 60, aqueles em que um sujeito íntegro abandona seus princípios e comete violências tão terríveis quanto as que foram cometidas contra ele.