Pablo Ortellado: Brasil esteve na ‘vanguarda’ das fake news
Segundo o professor da USP, muitos elementos que seriam vistos nas eleições americanas de 2016 tinham já aparecido na disputa eleitoral brasileira, em 2014
As eleições no Brasil de 2014 podem ser a “vanguarda” das notícias falsas, conforme informou o professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado, com base em pesquisas recentes sobre o tema. Segundo ele, muitos dos elementos que se veriam na campanha dos Estados Unidos em 2016 e em outras votações pelo mundo já estavam no país naquele ano.
“Teve guerra suja. Nós tivemos robôs, contas falsas, fábrica de rumores. Um princípio de notícias falsas”, explicou Ortellado em entrevista à colunista de VEJA Dora Kramer no fórum Amarelas Ao Vivo. Para o pesquisador, as fake news se divulgam mais “porque a notícia falsa se adequa perfeitamente aos aspectos da opinião”, disse.
Pioneiro no estudo das notícias falsas compartilhadas nas redes sociais, Ortellado disse que as pessoas que compartilham notícias falsas têm um perfil: geralmente, são cidadãos com mais 40 anos, de classe média tradicional e com ensino superior. Parte do problema, segundo ele, pode ser explicada porque os cidadãos se veem “como soldados emu ma guerra de informação”.
Somado a isso, existe o fenômeno da polarização, classificada pelo pesquisador como o “antipetismo” e a “esquerda’, que reduz a capacidade crítica e a disposição em desmentir algo que favoreça a posição política de um indivíduo que compartilha as fake news. “Estamos excessivamente apaixonados politicamente. E, quando estamos assim, a nossa capacidade crítica cai e essa é a natureza da problema no meu entender”, afirmou Ortellado.