Calero: Na cultura, Bolsonaro copia Venezuela e China
Deputado federal e ex-ministro aponta para censura na proposta de se criar "filtros" em projetos da Ancine e defende o fortalecimento da Lei Rouanet
Ex-ministro da Cultura do governo Temer, diplomata e hoje deputado federal, Marcelo Calero (Cidadania-RJ) faz questão de chamar de censura a proposta do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ) de criar “filtros” para aprovação de projetos pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). “Ele copia modelos de países como Venezuela e China. Nós precisamos garantir total liberdade de criação. Os editais de seleção não podem fazer qualquer avaliação do ponto de vista subjetivo e de conteúdo. Seus critérios devem ser técnicos”.
Em entrevista ao programa Páginas Amarelas ao editor-assistente de VEJA, Leonardo Lellis, o parlamentar também defendeu o fortalecimento da Lei Rouanet, que permite o patrocínio de espetáculos a partir do abatimento do valor no cálculo do Imposto de Renda — e já foi chamada de “desgraça” por Bolsonaro. “O Brasil precisa entender de uma vez por todas que, quando a gente fala de política cultural, tem que parar com essa historinha de que é para dar dinheiro para artista ‘mamar’. Tudo virou uma razão para ideologizar”, afirma.
Embora tenha assumido o ministério da Cultura no governo Temer já sabendo que estaria na companhia de investigados por corrupção, Calero recorda ter aceitado o cargo com a garantia de que teria autonomia. “Eu vinha de uma gestão muito bem avaliada na secretaria municipal de Cultura do Rio e acreditei que aquele convite representava uma maneira de fazermos aquelas políticas locais mais efetivas em termos nacionais”.
Durante sua passagem de apenas quase seis meses à frente da pasta, Calero entrou em rota de colisão com Geddel Vieira Lima, então poderoso ministro da secretaria de governo, ao se negar a liberar a construção de um empreendimento de luxo em uma área histórica de Salvador e que Geddel havia comprado um apartamento. Hoje, o parlamentar afirma que o governo Temer ficará marcado pela “corrupção a céu aberto”, embora também não considere o impeachment de Dilma Rousseff um erro. “O que se entende hoje é que havia interesses espúrios por trás do impeachment, o que não significa que ele foi ílegitimo.”
Cotado para entrar na disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro em 2020, Calero prega diálogo em torno de uma candidatura única. Ao lado de Eduardo Paes (DEM), de quem foi secretário municipal, e do governador João Doria (PSDB), o deputado esteve no lançamento da tucana Mariana Ribas ao pleito municipal.
“Todas as forças que não estão nem à extrema-esquerdam nem à extrema-direita entendem a responsabilidade de construírmos uma candidatura que dê aos cariocas essa resposta de amor à cidade e uma administração eficiente, que não
esteja nessa polarização enlouquecida que a política do Brasil vive.”