Randolfe: ‘Caminhamos a passos largos para repetir situação do Chile’
Senador critica reformas do governo na área econômica, gestão ambiental de Ricardo Salles e afirma não haver, no momento, elementos para saída de Bolsonaro
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição ao governo Bolsonaro no Senado, vê o Brasil caminhando a “passos largos” para repetir a situação que levou a uma série de protestos de rua no Chile. “As reformas ultraliberais que foram colocadas em prática no Chile, e das quais o atual ministro da economia Paulo Guedes participou e é especialista, não foram modificadas ao longo do tempo e levaram ao clima de empobrecimento e radicalização que chegou ao Chile agora”, afirmou, ponderando não desejar que isso aconteça no país. “Mas ninguém segura colapso social.”
Em entrevista ao programa Páginas Amarelas, o senador também falou da coalizão que pretende construir com os partidos de oposição para as próximas eleições e minimizou o papel que o ex-presidente Lula, agora solto, terá neste processo. “O primeiro desafio é construirmos uma concertação de atuação política juntos. Se entre Lula e Ciro há diferenças, essas diferenças não podem ser pautadas na luta política diária pela democracia, contra os retrocessos que estão em curso”. O senador ainda descartou haver no momento qualquer conversa concreta pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
As únicas saídas dos cargos que o senador defende são as dos ministros Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente. No caso do presidente do STF, Randolfe vê excesso na abertura de um inquérito para a própria corte investigar ataques aos seus integrantes. Já em relação a Salles, o que está em xeque para o senador é sua gestão à frente da pasta. “Nós tivemos ao longo de 2019 a desconstrução da governança ambiental no Brasil, protagonizada pelo atual governo, construída ao longo de 25 anos e que transformou o país em referência no planeta”, avalia.
Defensor de primeira hora da Lava Jato, o senador ainda critica a atuação do atual ministro Sergio Moro (Justiça) enquanto era juiz da operação e, a partir dos diálogos revelados entre ele e o procurador Deltan Dallagnol, faz uma autocrítica ao apoio que deu à força-tarefa. “Se eu tivesse as informações que tive, por exemplo, do Intercept, se eu imaginasse que o juiz teria uma posição partidária, com certeza o ímpeto do apoio não seria o mesmo. Mas temos que preservar por princípio o combate à corrupção”.