Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Muito além do açaí e do guaraná, dispara interesse por sabores da Amazônia

Uma tendência que, fora o apelo ao paladar, traz toques de culinária ancestral e de sustentabilidade

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h38 - Publicado em 14 Maio 2023, 08h00

De Carlos Drummond de Andrade, em um dos aforismos de O Avesso das Coisas: “A natureza não faz milagres, faz revelações”. E aí está a Amazônia, tão reconhecida pela sua relevância ambiental, para comprovar a máxima do poeta mineiro. Não bastasse ser o maior polo de biodiversidade do mundo, a floresta anda exportando ingredientes, de cores, aromas e sabores infinitos, para restaurantes e empresas nacionais e internacionais de alimentos. É uma das mais importantes tendências atuais da gastronomia.

A comida amazônica caiu no gosto, e não por acaso Manaus entrou na lista de melhores destinos turísticos do gênero do jornal americano The New York Times em 2023. São frutos, raízes, hortaliças e peixes, alguns deles exclusivos da Região Norte do país. Ao serem adotados por grandes chefs de cozinha e pela indústria alimentícia, atraem novos mercados e consumidores. Some-se ao paladar e às tonalidades o tom adequado aos humores da humanidade: valorizam-se, por tabela, os conhecimentos dos povos originários e o permanente respeito à sustentabilidade. É bom e do bem.

VITAMINA - Suplemento em pó da startup Mahta a partir de quinze produtos da região: promessa de equilíbrio e energia para o organismo
VITAMINA – Suplemento em pó da startup Mahta a partir de quinze produtos da região: promessa de equilíbrio e energia para o organismo (./Divulgação)

Como constatação do sucesso, a maior floresta tropical do planeta será o tema da próxima edição do prestigiado Fórum Gastronômico Internacional Alimentarte, organizado pelo instituto espanhol Basque Culinary Center. O encontro, que será realizado no fim deste mês na Colômbia, reúne cozinheiros, sommeliers e especialistas para discutir a evolução da culinária moderna. “A Amazônia é um celeiro de ingredientes e de cultura”, diz Thiago Castanho, chef do Remanso do Peixe, restaurante em alta de Belém do Pará. Famoso por iguarias como o pão sírio de mandioca com camarão seco, a pupunha com tucupi e a sobremesa de cupuaçu com polvilho de farinha de mandioca e babaçu, Castanho também ganhou as páginas do The New York Times, que o chamou, com pompa e circunstância, de um dos chefs mais inovadores do Brasil.

Continua após a publicidade
TRADIÇÃO E INOVAÇÃO - O filé de pirarucu do chef Felipe Schaedler, do Banzeiro: “Há uma fome pela Amazônia”
TRADIÇÃO E INOVAÇÃO – O filé de pirarucu do chef Felipe Schaedler, do Banzeiro: “Há uma fome pela Amazônia” (@banzeirosp/Instagram)

Ele brilha ao lado de nomes como Felipe Schaedler, chef do premiado restaurante Banzeiro, em São Paulo — “há uma fome pela Amazônia”, diz ele —, e Saulo Jennings, do Casa do Saulo, no Rio de Janeiro. Schaedler é um dos responsáveis pela disseminação da cozinha manauara e dos arredores. Seus pratos arrojados, em especial os elaborados com tucupi — que ele considera o “shoyu” amazonense — e com os peixes tambaqui e pirarucu, alçaram a condição de obras de arte. Há espaço, claro, para as sobremesas. Nesse campo, quem se destaca é a sorveteria Bárbaros, de São Paulo, que oferece um leque inusual de perfumes, como os de buriti, pupunha, cumaru, chocolate defumado com pimenta baniwa e tucupi negro — os dois últimos obtidos do povo indígena baniwa, que vive no Alto Rio Negro. “Sou amazonense, convivo com a terra, então os sorvetes não poderiam ser diferentes”, diz Maurício Prado, dono da marca, ao lado da mulher, a cozinheira Milene Ribas.

SOBREMESA DA FLORESTA - Sorvetes únicos: castanha-do-pará, cupuaçu e tucupi negro estrelam gelados da Bárbaros
SOBREMESA DA FLORESTA – Sorvetes únicos: castanha-do-pará, cupuaçu e tucupi negro estrelam gelados da Bárbaros (@barbarossorveteria/Instagram)

Há um charme inescapável, de mãos dadas com o zelo ambiental: os processos artesanais de preparação e técnicas culinárias que passam de geração em geração e se sobrepõem aos excessos de requinte um dia promovidos pela alta gastronomia. É mudança de conceito abraçada por estrelas evangelizadoras como o brasileiro Alex Atala. Pesquisas recentes dão nome e rosto ao fenômeno. A multinacional Kerry investigou as mais recentes ondas à mesa e nas prateleiras de supermercados. O resultado: cupuaçu, graviola e castanha-do-pará estão em alta. Os motivos? São ricos do ponto de vista nutricional. Representam consumo correto, já que o manejo e a extração responsáveis geram renda para as comunidades locais. “Respeitam o planeta ao preservar os biomas, propósito fundamental nos dias de hoje”, diz Maurício Bonfim, chef e gerente de inovação culinária da Kerry.

É com essa inspiração que surgem novidades como o “superalimento” em pó da startup Mahta, feito a partir de quinze itens amazônicos e a promessa de dar mais equilíbrio e energia ao corpo no dia a dia — as vendas do preparo subiram 1 000% entre julho de 2022 e abril de 2023. E viva a Amazônia, tão ferida, que, se não é milagrosa, ao menos é reveladora, como cantou em versos o poeta.

Publicado em VEJA de 17 de maio de 2023, edição nº 2841

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.