Os bares e restaurantes que não resistiram à crise do coronavírus
Entre os locais que encerraram as atividades estão o La Frontera, Cateto e Capivara, em São Paulo, e o Bar Leo, o Ráscal e o Espirito Santa, no Rio
Na esteira da crise causada pela pandemia do novo coronavírus, um dos setores mais impactados é o de bares e restaurantes. Mesmo com a retomada gradual das atividades econômicas em algumas cidades, estes estabelecimentos seguirão fechados em um primeiro momento podendo operar, apenas, com serviços de retirada e delivery. A restrição ao funcionamento, em alguns casos, leva ao fechamento definitivo do negócio.
Segundo dados da Associação Nacional de Bares e Restaurantes (Abrasel), cerca de 20% do setor (aproximadamente 50 mil estabelecimentos) faliu no estado de São Paulo. O órgão estima que, se não houver nenhuma medida de amparo aos negócios desse segmento, durante o mês de junho fecharão, em média, 1.650 estabelecimentos por dia, o que pode afetar cerca de 10 mil trabalhadores e 3.300 empresários do setor.
Em São Paulo, estabelecimentos tradicionais fecharam as portas nos últimos meses. Em abril, o La Frontera e o Pasv, também da região central, encerraram as suas atividades. Nas redes sociais, o bar Cateto, na região de Pinheiros, zona oeste paulistana, anunciou, há duas semanas, que “diante de uma pandemia mundial que ninguém estaria pronto para prever ou se preparar, nós, como tantos outros pequenos negócios, não resistimos”. Anúncio semelhante foi feito pelo bar Capivara, na Barra Funda, também na zona oeste. “Informamos que o Capivara Bar, como se conhece, não existe mais”, diz uma publicação da quarta-feira 27 no Instagram.
No Rio de Janeiro, segundo levantamento do Sindicato de Bares e Restaurantes do estado (SindRio), encerraram as suas atividades o Bar Leo, duas unidades do Ráscal (CasaShopping e Rio-Sul), o Laguiole Lab, Puro, Aconhego Carioca (Leblon), a cervejaria Yeasteria, o restaurante Zuka e o Espirito Santa.
Em nota, a Companhia Tradicional de Comércio, que administra o bar Astor, em Ipanema, e duas unidades da Bráz Pizzaria, no Jardim Botânico e na Barra da Tijuca, afirmou que os estabelecimentos de Ipanema e da Barra da Tijuca interromperam as suas atividades. De acordo com a companhia, 22 funcionários foram demitidos da unidade da Barra da Tijuca e outros 44 foram desligados do bar Astor.
O Malta Beef Club, especializado em carnes nobres, anunciou a suspensão das atividades das unidades, no Jardim Botânico e no Leblon, em uma rede social. “Lamentamos profundamente o avanço da crise mundial provocada pela Covid-19. Nossa única arma no momento é tentar conter a propagação do vírus permanecendo em casa, conforme recomendações das autoridades”, diz o restaurante. O estabelecimento voltará a atender via delivery a partir do dia 5 de junho.
O chef Claude Troisgros anunciou, ainda em março, em uma rede social, que quatro de seus restaurantes interromperam o atendimento ao público: Le Blond, CT Boucherie Leblon, CT Brasserie, CT Boucherie Rio Design Barra. Destes, os dois primeiros ainda funcionam através de delivery, enquanto Chez Claude e Olympe deverão iniciar as atividades neste setor em breve. “Nosso desejo é que este momento seja breve e passageiro, e que possamos voltar às nossas rotinas de forma segura o mais rápido possível”, diz o chef em seu perfil no Instagram.
O restaurante Lasai, do chef Rafa Costa e Silva, também foi fechado em razão do coronavírus. “Devido à gravidade do momento e com o intuito de evitar ainda mais a propagação do coronavírus, decidimos fechar o restaurante por tempo indeterminado. O momento é de zelar pela saúde de todos os nossos amigos, clientes e colaboradores”, disse em um vídeo.
Presidente do SindRio, Fernando Blower afirma que cerca de 10% dos bares e restaurantes já fecharam e um terço não terá condições financeiras de reabrir após a crise. “A crise do coronavírus foi um tsunami para o setor. Antes da crise, tínhamos 110 mil empregos diretos na cidade do Rio. Estimamos que pelo menos um quarto destes empregos foI perdido. Além disso, pelo menos 10% fechou de vez e não abre mais. Um terço, pelo menos, não conseguirá abrir. A não ser que mude algo muito significativo para que o crédito chegue ao pequeno empresário”, disse a VEJA.
Blower afirma que, embora alguns estabelecimentos ainda funcionem com delivery, a alternativa é financeiramente viável para apenas uma parcela dos negócios. “O delivery só é rentável para o comerciante que tem sua operação pensada exclusivamente para o online. Mas a regra, no Rio, é o empresário que tem salão. Além disso, as plataformas de delivery cobram entre 23% a 27% da receita. O que sobra de receita paga insumo, ou seja, o dono do negócio vende para pagar dívida”, disse a VEJA.
Nesta sexta-feira, 29, representantes do SindRio se reuniram com o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), para tratar da reabertura gradual para o setor. Blower afirma que o segmento pede que as medidas de restrições que serão propostas pela prefeitura não inviabilizem o funcionamento do estabelecimento.
De acordo com o presidente do SindRio, a prefeitura apresentará, nos próximos dias, um protocolo que estabelece as medidas necessárias para que os estabelecimentos possam voltar a operar. Uma das ideias aventadas é que o dono do negócio sinalize, com uma autodeclaração, que aceita os termos da prefeitura e passe a se responsabilizar pela fiscalização sanitária de seu estabelecimento.