REYNALDO ROCHA
Márcio “God” Bastos engole em seco e finge não ouvir o que o ministro Cezar Peluso disse. Em nome de uma pretensa civilidade, o espetáculo da hipocrisia depõe contra os que fazem fila para cumprimentar quem demonstrou que defesa não deve rimar com mentira. Que o devido processo legal não pode ser usado contra a cidadania. Que os argumentos dos defensores precisam ser, no mínimo, argumentos.
A fila dos que beijam a mão de quem honrou a profissão e soube respeitar o Estado de Direito deveria ter a decência de não oferecer ao Brasil outro show de sabujice.
Cezar Peluso não precisa destas manifestações farisaicas. Os causídicos pagos a peso de ouro deveriam estar telefonando para os clientes, para avisar que o camburão está ali na esquina (apud Augusto Nunes).
Peluso ouviu de Roberto Gurgel o elogio verdadeiro. “Saberíamos que o senhor, no STF, daria ao efêmero a densidade do eterno. Sua passagem ficará gravada na história da Justiça brasileira”, disse o procurador-geral da República..
Cezar Peluso teve votos contestados. Como simples jurisdicionado, divergi de alguns. Mas sempre reconheci a independência e honestidade que marcaram seu comportamento. Nunca deixei de considerá-lo um JUIZ.
Aliás, ele foi juiz concursado. Ao contrário de quem tentou duas vezes e não conseguiu ingressar na magistratura.
Não deve a indicação a interferências de “damas” de presidentes. Jamais precisou se declarar impedido, também ao contrário de outros.
Nestes tempos estranhos, a honestidade e a correção de um juiz precisam ser exaltadas. O que já foi usual se tornou excepcional depois do advento da Era da Mediocridade. Moral.
O mesmo “God” que bajula Peluso tentou, e acabou conseguindo, impedi-lo de exercer o direito de ser juiz até o fim do processo do mensalão. Durante o discurso inconvincente, o ex-ministro da Justiça disse que a função de ministro do STF deveriam ser vitalícias. Fingiu esquecer que manobrou o tempo todo para evitar que Peluso participasse até da sessão desta quarta-feira.
Hoje, no STF, formou-se uma fila em reverência a um JUIZ. Preferi enxergar a fila dos hipócritas, envergonhados, purgando os próprios pecados e crimes.