Muitas vezes, o vocabulário da ciência, da arte e de outras áreas empresta palavras para nomear aspectos da vida pessoal. Acontece também com termos do mercado financeiro. Desses, “investir” é certamente o mais comum. Investimos na felicidade, no casamento, em um novo trabalho.
Por isso, quando soube do sucesso da “dieta-portfólio”, não me surpreendi. Pensei até que demorou para surgir a analogia entre o portfólio – a carteira de aplicações de um cliente – e o que escolhemos colocar no prato, investindo na saúde.
Desenvolvido por pesquisadores de saúde pública da Universidade Harvard, o plano não visa o emagrecimento. A ideia é proteger o coração. Por isso, o cerne é incluir no menu, ou na “carteira”, alimentos que sejam conhecidos por baixar os níveis de mau colesterol.
Ao longo de trinta anos, os cientistas acompanharam quase 170 mil mulheres e cerca de 44 mil homens saudáveis nos anos 1980 e 1990, quando o estudo começou. Eles responderam questionários a cada quatro anos.
O que é novo, na dieta, não é tanto o que se come, mas a ideia de combinar e variar os alimentos que fazem bem à saúde no longo prazo. Talvez hoje a sua preocupação não seja o coração, ainda mais se ele estiver tinindo – como era o caso dos participantes. Os portfólios para o nosso corpo podem variar a depender do que é o “futuro” a cada etapa da vida, exatamente como acontece com o dinheiro. O plano de um jovem pode ser viajar nas férias do ano que vem, mas anos depois, ele pode querer um apartamento.
Claro que doces, petiscos gordurosos e carboidratos refinados nunca estarão numa lista de alimentos saudáveis. Mas os pesquisadores não os baniram. Afinal, como nas finanças pessoais, também é preciso considerar o prazer de pequenos luxos aqui e ali.
Conseguimos divisar com muita clareza a importância de garantir o bem-estar na aposentadoria. Para muita gente, é o tão sonhado momento de aproveitar o tempo livre. Mas de que vale fazer investimentos financeiros corretos sem dar atenção ao corpo que vai nos levar a desfrutar dos lucros? Cuidar de si não é remediar problemas, ou não só. É principalmente evitá-los.
Minha família sempre entendeu dieta e exercícios como um investimento de longo prazo. Nem todos começaram a “economizar” ao mesmo tempo, mas nunca deixamos de pensar na saúde como o que há de mais importante na vida. A alimentação saudável é um pilar da longevidade.
Moderação, nas finanças ou na dieta, é importante para todos. Não à toa um banco mundial de investimentos criou um curso para ensinar ao público de alta renda a limitar as despesas. Às vezes nos comprometemos com um gasto fixo que de início nos dá prazer e o mantemos em “piloto automático”. Em nome da memória de amizades e diversão passados ali, pagamos a mensalidade do clube que deixamos de frequentar. Do mesmo modo, aquele brigadeiro nos tenta com a evocação do sabor de infância. No passado, podíamos nos fartar desses doces. Agora, talvez o gosto não valha as calorias.
Pensar a dieta como um investimento vital, mantendo no portfólio uma boa cota de alimentos saudáveis, permite extravagâncias pontuais que nos deem prazer real. Apostas ponderadas e planejamento são as chaves. É melhor fazer o investimento tarde do que não fazer? Sim. Mas quanto antes começarmos a investir, melhor.