Os brasileiros veteranos, testemunhas da glória de Martha Rocha, entristeceram-se na sexta-feira da semana passada, dia 9/3, com uma notícia veiculada por ela no Facebook. Nossa eterna Miss Brasil 1954 e segunda colocada no concurso Miss Universo daquele ano, revelou que foi residir em uma casa de repouso. “Meus amigos, participo que estou morando numa pousada para idosos por questões financeiras”, informou ela. “Não me sinto diminuída, humilhada por isso. Pelo contrário, pois a minha dignidade segue sem mácula”.
Diminuídos e humilhados estamos nós, ao assistirmos a mais linda mulher vencedora de um concurso de beleza no país jogar a toalha. Era para Martha Rocha continuar admirada e aplaudida, desfrutar da tranquilidade das grandes referências humanas do Brasil. Infelizmente, isso não aconteceu. Baiana de Salvador, ela tinha 21 anos em 1954, 1,70 m de altura, 58 kg de peso, 59 cm de cintura, olhos azuis transparentes e sorriso luzidio. Foi aos Estados Unidos ao ser eleita Miss Brasil, por ter grandes possibilidades de conquistar o título de Miss Universo.
Perdeu a coroa e o cetro para a norte-americana Myrian Stevenson, uma lourinha simpática cuja beleza sem graça não chegava perto da candidata brasileira. O concurso transcorreu na praia de Long Beach, na Califórnia. A explicação dada aos brasileiros para o insucesso, ainda repetida por muita gente, é que Martha Rocha perdeu o primeiro lugar por medir duas polegadas ou cinco centímetros a mais nos quadris (97 cm) em relação ao busto (92 cm). Ninguém no Brasil entendeu a justificativa. Aqui, sempre consideramos virtude o fato de uma mulher ter quadris avantajados.
Sabe-se hoje que as duas polegadas a mais foi uma invenção do jornalista João Martins, de “O Cruzeiro”, do Rio de Janeiro, que cobriu o concurso de Miss Universo. Accioly Netto, diretor de redação da revista para a qual ele trabalhava, confirmou a invencionice. No livro “O Império de Papel – os Bastidores de O Cruzeiro” (Editora Sulina, Porto Alegre, 1998), confessou que seu enviado especial combinou a versão com os outros jornalistas nacionais presentes em Long Beach.
Era preciso consolar os brasileiros, aplacar a frustação nacional. No livro “Martha Rocha – Uma Autobiografia”, ditado a Isa Pessoa (Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1999), a eterna Miss Brasil jogou água fria na lenda: “Nunca eu soube se essa história das duas polegadas teria sido verdade mesmo”. A derrota de Martha Rocha rendeu até uma marchinha carnavalesca composta por Pedro Caetano, Alcyr Pires Vermelho e Carlos Renato: “Por duas polegadas a mais, passaram a baiana pra trás/ por duas polegadas e logo nos quadris/ tem dó, tem dó, seu juiz!”
Por que, então, os juízes preteriram Martha Rocha? Precisavam interessar a população norte-americana pelo concurso de Miss Universo, que amealhava milhões de dólares dos patrocinadores, entre os quais os maiôs Catalina, usados por todas as candidatas. Uma norte-americana no trono mundial daria novo ânimo ao concurso, o que de fato aconteceu. Também se disse que, para os estilistas dos maiôs Catalina, a silhueta de Myrian Stevenson se adequava melhor aos padrões de beleza da marca.
Uma doce homenagem à linda Miss Brasil foi prestada em Curitiba, no Paraná, onde o confeiteiro galego Jesus Alvarez Terzado, dono da Confeitaria das Famílias, ainda funcionando na movimentada Rua XV de Novembro, rebatizou de Martha Rocha uma antiga receita de torta. “Ele fez isso para me consolar, ao perceber que eu não me conformava com a injustiça da nossa candidata ter perdido o título de Miss Universo”, contou Dair da Costa Terzado, após a morte do marido, em 1984.
A receita generosa da torta Martha Rocha – com os incríveis recheios de creme de ovos, nata, crocante de nozes e castanhas – espalhou-se sobretudo no Sul e Sudeste do Brasil. Curiosamente, a homenageada nunca se entusiasmou por ela e, no fundo, até se incomoda ao vê-la comercializada. “Não gosto muito de doces”, desconversa Martha Rocha. “Mesmo assim, espero que a torta de Curitiba seja sempre bem feita e que muitas pessoas a apreciem”.
TORTA MARTHA ROCHA
Rende 15 a 20 porções
INGREDIENTES
Massa
.10 gemas
.10 claras
.1 copo de açúcar
.2 copos de farinha de trigo
.1 colher (chá ) de fermento em pó
.100g de chocolate em pó (sem açúcar)
.Margarina para untar as fôrmas
Creme de ovos
.500g de açúcar
.1/4 (litro) de água
.25 gemas
.1 copo de leite
Crocante de nozes e castanhas
.1kg de açúcar
.200g de nozes picadas
.200g de castanhas picadas
Nata
.500g de creme de leite fresco (gelado)
.3 colheres (sopa) de açúcar
.1 colher (chá) de rum ou de essência de baunilha
Calda de açúcar
.2 xícaras (chá) de açúcar
.2 xícaras (chá) de água
.2 colheres (sopa) de rum ou licor maraschino
Montagem
.1/2 xícara (chá) de doce de leite cremoso
.1 disco de suspiro comprado pronto
Decoração
.Nata
.Cerejas (ou nozes)
.Chocolate granulado
PREPARO
Massa
1.Bata as gemas na batedeira e adicione aos poucos o açúcar, sempre batendo, até obter ponto de gemada.
2.Acrescente aos poucos a farinha de trigo peneirada com o fermento e vá batendo, até os ingredientes homogeneizarem.
3.Despeje metade dessa massa numa tigela e misture o chocolate em pó. A outra metade da massa (branca) coloque em uma segunda tigela.
4.Bata as claras na batedeira, em ponto de neve firme. Divida as claras pela metade e misture-as delicadamente às massas, cada uma em sua tigela.
5.Coloque as massas (branca e escura) em duas fôrmas redondas, untadas com margarina.
6.Leve para assar em forno médio (180°C), por 30 minutos, aproximadamente.
7.Retire, espere amornar, desenforme e divida cada uma das tortas em duas partes, obtendo quatro discos no total. Reserve.
Creme de ovos
8.Misture o açúcar com a água e leve para ferver, em fogo brando, sem mexer, até obter uma calda em ponto de fio.
9.Passe as gemas na peneira e depois adicione-as à calda. Acrescente o leite e ferva em fogo brando, por uns cinco minutos, para obter uma consistência cremosa. Reserve.
Crocante de nozes e castanhas
10.Leve o açúcar ao fogo baixo, mexendo, até obter ponto de caramelo. Acrescente as nozes, as castanhas e ferva por dois minutos, sem parar de mexer.
11.Retire do fogo, despeje em uma pedra de mármore e espere esfriar. Pressione um rolo de macarrão sobre o caramelo frio, triturando-o. Reserve esse crocante.
Nata
12.Na batedeira, bata por dois a três minutos, em velocidade média, o creme de leite gelado, com o açúcar, cuidando para que não passe do ponto. Retire e misture o rum ou a baunilha. Reserve.
Calda de açúcar
13.Misture a água com o açúcar e leve ao fogo brando, sem mexer, até obter uma calda rala. Adicione o rum ou o maraschino. Reserve.
Montagem
14.Disponha um disco de massa escura sobre uma travessa ou prato redondo. Umedeça com a calda de açúcar e recheie com um pouco da nata e também com um pouco do crocante. Reserve o restante desse recheio para a cobertura.
15.Coloque por cima um disco de massa branca umedecido com a calda de açúcar e recheie com o creme de ovos.
16.Faça uma terceira camada com o disco de massa escura, umedeça, recheie com o doce de leite e disponha por cima o disco de suspiro.
17.Finalize com o último disco de massa branca umedecido e cubra a torta com a nata e com o crocante.
18.Faça arabescos na parte superior, decorando, ainda, com chocolate granulado, cerejas ou nozes .
19.Sirva a torta gelada.
Receita preparada pela Confeitaria das Famílias – Rua XV de Novembro, 374, Curitiba (PR), tel.: (041)3223-0313.