O que há por trás dos longos aplausos em festivais como o de Veneza
Popularidade dos filmes é medida pelo tempo de duração das ovações – mas não significa de fato que o filme é bom
Dezoito minutos: esse foi o tempo que o filme The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, foi aplaudido de pé nesta semana no Festival de Veneza. Imagine a cena. Uma sala de cinema enorme, repleta de pessoas, com Almodóvar na plateia ao lado das duas protagonistas, Julianne Moore e Tilda Swinton, e por quase vinte minutos essas celebridades ficaram de pé agradecendo a ovação, enquanto se abraçavam e aplaudiam juntas. Os brasileiros viveram emoção parecida no domingo, quando Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Mello, também foi ovacionado no festival italiano por quase dez minutos. Apesar de serem usados como uma medida do sucesso e da qualidade do filme, esses longos aplausos escondem um bastidor que o público longe dali desconhece.
Para começar, festivais como o de Veneza, Cannes e Berlim, para citar os três maiores, possuem diversas sessões nas quais apresentam seus filmes. Há sessões destinadas para a imprensa e outras para distribuidores, espalhadas em um calendário em diferentes horários – como são muitos os filmes exibidos nesses eventos, a agenda tenta dar a todos a chance de ver o máximo de produções possível. Essas sessões para os profissionais de olhar crítico acontecem separadas da badalada sessão de gala – onde os tais aplausos são medidos.
Ao longo desses eventos, que duram cerca de duas semanas, os filmes em competição ou com estreias especiais são apresentados primeiro na sala de cinema principal do festival durante uma noite de gala. É nessa sessão que os atores desfilam seus looks elaborados no tapete vermelho e assistem à estreia do filme junto com a plateia. Para entrar numa exibição de gala, é necessário ter um convite – e eles são cobiçadíssimos. A maioria dessas entradas é destinada para outras celebridades, pessoas do meio, amigos e familiares dos envolvidos no filme, entre dezenas de outras personalidades que, de alguma forma, fizeram parte da produção. Alguns jornalistas, fãs e convidados aleatórios também costumam se infiltrar nesse balaio. Logo, qualquer filme exibido na sessão de gala será aplaudido longamente – alguns mais, outros menos. Mas não será nessa exibição, por exemplo, que uma produção será vaiada ou ignorada pelos presentes. E não é a longevidade dos aplausos que vai decidir quem, de fato, levará os prêmios. O Festival de Veneza deste ano, aliás, entrega seus troféus no sábado, 7 de setembro.