Depois de 28 anos de congelamento, Câmara vai ter dança das cadeiras
Congresso congelou bancadas estaduais por 28 anos e STF vê desequilíbrio inconstitucional. Cinco Estados devem ganhar dez vagas de deputado, oito vão perder
Arthur Lira, presidente da Câmara, quer votar na próxima semana um pacote de mudanças nas regras eleitorais e partidárias.
No conjunto, são 900 artigos onde é possível encontrar um pouco de tudo, incluindo censura a pesquisas eleitorais e imposição de prazo de um ano para que decisões do Supremo e da Justiça Eleitoral tenham efeitos práticos.
É provável que os deputados aprovem a maioria das alterações projetadas. Também é provável que o Senado derrube grande parte das medidas arquitetadas na Câmara.
Para complicar o jogo em andamento, o Supremo vai julgar uma ação apresentada pelo Pará que muda o tamanho das bancadas de treze Estados na Câmara, com reflexos nas respectivas assembleias legislativas.
O plenário da Câmara é composto por 513 deputados, mas a distribuição das vagas nos Estados está congelada há 28 anos. Retrata a população brasileira de 1993, sem considerar as mudanças demográficas do período.
O resultado é a persistência de um grande desequilíbrio representativo na Federação, o que o Supremo já declarou ser “inequivocamente inconstitucional”.
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O caso do Pará é simbólico. O Estado tem mais de oito milhões de habitantes, mas possui apenas 17 deputados federais. Já o vizinho Maranhão conta sete milhões de habitantes, e mantém 18 representantes na Câmara — tem um deputado a mais, embora possua um milhão a menos de habitantes que o Pará.
O governo paraense pediu a intervenção do Supremo, porque há 28 anos o Congresso evita cumprir a exigência constitucional de representação parlamentar proporcional à população de cada Estado.
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Em 2014, o Supremo reconheceu a situação de “omissão legislativa inconstitucional”, porque o Congresso não decidia sobre o ajuste da representação parlamentar à demografia nacional. Os juízes chamam de inércia deliberativa um processo decisório político: o Congresso simplesmente, decidiu não decidir durante todo esse tempo.
Depois de quase três décadas de omissão deliberada do Legislativo, e sete anos de declaração de inequívoca inconstitucionalidade, o Supremo resolveu julgar a reivindicação do Pará de um ajuste das bancadas de deputados à proporção da população de cada Estado, válido para as eleições do próximo ano.
O plenário da Câmara continuará com o total de 513 deputados. Porém, cinco Estados (Pará, Amazonas, Minas Gerais, Ceará e Santa Catarina) devem ganhar dez vagas.
Em compensação, oito Estados terão bancadas reduzidas (Piauí, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná).
Luiz Fux, presidente do STF, programou a decisão para hoje. Como a Câmara resolveu revisar e votar toda a legislação eleitoral e partidária, achou melhor suspender o julgamento, à espera da iniciativa do Congresso.
Se não houver mudança legislativa, deverá acontecer pela via judicial. Já são mais de 10 mil dias sem cumprir a Constituição.