Nos próximos dias será possível dimensionar o vigor da reação ao projeto de tumulto eleitoral que tem sido publicamente desenhado por Jair Bolsonaro. Pode superar expectativas, considerados os protestos programados em São Paulo na segunda quinzena de agosto.
O candidato à reeleição realizou uma proeza: conseguiu mobilização opositora da miríade de organizações civis que raramente se expõem unidas, com objetivo único e suprapartidário. No caso, a defesa do regime democrático.
Num ato marcado para o dia 11, pretende-se a insurreição da sociedade “contra as tentações autoritárias e as práticas governamentais abusivas”, na definição de Celso de Mello, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal.
Escolhido portavoz, Mello julga “imprescindível que a cidadania se pronuncie, de forma vigorosa e inequívoca, pela defesa intransigente da intangibilidade do regime democrático”. Com a saúde fragilizada, ele não poderá ler um manifesto diante da Arcadas, como é conhecida a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no centro da cidade. Dali saiu parte significativa da elite que governou o Brasil nos últimos 195 anos: 13 presidentes da República; 45 governadores de São Paulo e 13 prefeitos da capital paulistana.
Ano e meio de estabilidade nas pesquisas de intenção de voto sugere apatia no eleitorado. Por isso mesmo, dizem pesquisadores de opinião, é recomendável não subestimar o risco de ruptura nas tendências a partir do maior colégio eleitoral do país — um efeito do tipo “pedra no lago”, com formação de ondas em água calma. Tem precedente: aconteceu há 45 anos em plena ditadura, bem antes do advento da internet.