Depois de anos turbulentos para os investidores, 2024 tem fatores positivos que prometem boas oportunidades nos investimentos. A inflação sob controle no Brasil e em grandes economias — e a expectativa de redução nas taxas de juros mundo afora — ajuda a levar otimismo de volta para a renda variável, o que já tem feito os mercados globais reagirem, os juros ainda continuam altos para que a renda fixa também continue tendo ativos com uma boa remuneração.
A XP, por exemplo, calcula que o Ibovespa – que encerrou 2023 chegando aos 134 mil pontos e batendo recordes – está ainda barato, e que, se estivesse a um valor justo, poderia estar nos 142 mil, levando em conta o desempenho das empresas que estão listadas lá. Isto significa que há ainda um bom espaço para a bolsa brasileira se valorizar.
“A renda variável se apresenta como uma modalidade com excelentes chances de entregar bons resultados, seja por meio ações, fundos de ações, ETFs, BDRs, fundos imobiliários ou mercado futuro”, afirmou a corretora Toro investimentos em relatório a clientes. “Além disso, a renda fixa e os fundos desta categoria também seguem interessantes, dado o atual patamar da taxa Selic”, continua.
Isso não significa que há um cenário livre de riscos, com o alto nível dos gastos públicos ainda sendo um fator de pressão para os juros no Brasil, e a possibilidade de desaceleração econômica em regiões relevantes como Estados Unidos e Europa inspirando cautela. Por isso, a diversificação continua sendo a grande estratégia recomendada pelas corretoras, bancos e gestoras para os investidores em 2024.
Renda fixa
Conforme a Selic, a taxa básica de juros do país, segue sua trajetória de queda ao longo de 2024, a principal recomendação dos especialistas está na diversificação nos tipos dos títulos de renda fixa, sejam eles os títulos do Tesouro Direto ou aplicações privadas como CDBs, LCAs e LCIs. “Recomendamos buscar uma carteira de renda fixa bem diversificada em 2024”, diz a Toro. “A recomendação é que o investidor escolha, principalmente, investimentos prefixados, com vencimento até cinco anos e híbridos atrelados ao IPCA com vencimento mais longo.”
É um pensamento que vai em linha com as carteiras recomendadas pela XP. “Os cortes de juros à frente sugerem que os percentuais entre pós-fixado, prefixado e inflação sigam mudando, com maior propensão a reduzirmos um pouco mais o pós-fixado”, diz a corretora.
Os títulos pós-fixados são aqueles que têm um rendimento que acompanha a Selic e o CDI, e tendem, portanto, a remunerar menos conforme os juros caiam. Eles continuam sendo importantes e devem seguir carreando uma parte do dinheiro, já que são a aplicação mais segura e previsível da renda fixa. Mas os outro devem ganhar mais espaço. “Mantemos ainda a renda fixa de inflação [títulos atrelados ao IPCA ou outros índices de preços] em patamares elevados, e exposições mais limitadas em prefixado”, continua a XP.
Na visão da gestora do Santander, o movimento de queda de juros abre caminho também para outras categorias dentro da renda fixa que são mais arrojadas, mas também tendem a remunerar mais. “Os produtos de crédito privado e infraestrutura são uma alternativa interessante para melhorar o perfil de retorno da parcela dos portfolios direcionada para risco mais baixo, com aderência ao CDI”, afirma a gestora. É o caso das debêntures, que são títulos de dívida emitidos por empresas, e que incluem também as debêntures de infraestrutura, que são papéis ligados a projetos do setor e que têm isenção do imposto de renda. É possível investir nesses ativos também por meio de fundos de crédito privado.
“O cenário macro deve favorecer esse tipo de produto, já que a perspectiva de juros mais baixos e atividade em moderação, com baixo risco de recessão, contribui para melhorar a qualidade de crédito dos emissores”, continua. De acordo com os analistas, mesmo com queda recente nos juros, as remunerações desses ativos ainda estão em patamares atraentes.
Renda variável
Nas contas da XP, a bolsa brasileira está barata, com o preço das ações sendo negociados em valores relativamente mais baixos do que o que suas empresas entregam em lucros ou o que possuem em patrimônio. “Esses indicadores estão sendo negociados abaixo de suas médias históricas de longo prazo”, diz.
Esses descontos, somados à atração natural que a renda variável e mercados emergentes como o Brasil já têm quando os juros começam a baixar e os investidores globais saem à procura de maiores rendimentos, deve ajudar a favorecer o mercado. “Nos próximos 12 meses, devemos seguir com exposições mais elevadas a ativos de renda variável listados em bolsa, com um mix entre ações e fundos imobiliários”, diz a corretora
O Santander também aposta em uma migração crescente do dinheiro da renda fixa para as ações ao longo de 2024, mesmo que o ritmo disso deva ser dosado ao longo do ano conforme os riscos se desenrolem com maior clareza. “A composição do mercado acionário brasileiro é diversificada, com exposição a empresas produtoras de commodities, bancos e ativos mais voltados à economia doméstica, abrindo espaço para ganhos por diferentes fatores”, diz a gestora do banco. “Em termos de alocação setorial, iniciamos o ano com preferência por setores que se beneficiam do ciclo de corte de juros.
Para ajudar a balancear as incertezas e a volatilidade que ainda vão continuar sobrevoando os mercados no Brasil e no resto do mundo, a XP recomenda também uma parcela da carteira em fundos multimercados, que mesclam ativos de vários tipos (como juros, ações e moedas) e costumam ser uma boa ferramenta de proteção para esses momentos. “Os fundos multimercados não precisam de um cenário específico para obter bons resultados”, diz. “Diversificar os riscos das carteiras com investimentos que tenham pouca correlação com a renda fixa e renda variável deverá ser ainda mais relevante em um cenário volátil e de transição de regime.”