Em meados dos 1990, a cena gastronômica das metrópoles brasileiras sofreu grandes transformações. Foi nessa época que restaurantes de diferentes origens desembarcaram no país, oferecendo novas perspectivas que transcendiam as tradicionais culinárias italiana e portuguesa, há muito tempo consolidadas em solo nacional. O movimento de renovação ganhou força com a chegada de casas japonesas e chinesas, que rapidamente conquistaram legiões de admiradores. Com o tempo, variações dessa tendência — como as temakerias típicas do Japão e os fast foods característicos da China — ganharam ainda mais espaço e passaram a fazer parte da dieta regular de milhões de brasileiros. Agora, uma nova invasão asiática chega ao país — mas com sabor diferente.
Restaurantes inspirados na culinária de nações como Filipinas, Indonésia, Singapura, Tailândia e Vietnã, entre outras, são a onda gastronômica do momento. O Rio de Janeiro lidera o fenômeno. Instalado nas dependências do hotel A Concept, nas areias da Praia de Manguinhos, em Búzios — lugar que outrora abrigou a mansão de 4 000 metros quadrados do banqueiro Roger Wright —, o Ban Thai tem apenas 36 lugares, em atmosfera intimista, e um cardápio tailandês contemporâneo, com destaque para o rolinho de pato confit e as vieiras grelhadas com abóbora. Na capital fluminense, o Nam Thai se consolidou como uma das referências em cozinha tailandesa do Brasil, mas o chef David Zisman incluiu no cardápio iguarias de países como Camboja, Malásia e Vietnã.
Diversas razões explicam o fenômeno. A primeira delas, e certamente a mais óbvia, é a busca por sabores diferentes — e quanto mais abrangente for a cozinha, melhor. Além de pratos típicos da Tailândia, o Asiana, inaugurado no ano passado em Porto Alegre, traz pratos clássicos de lugares como Camboja, Indonésia, Malásia e Mongólia. “O segredo é o equilíbrio”, afirma o chef Victor Jongh. “Como utilizamos molhos marcantes, o desafio é acertar na alquimia dos pratos.” As combinações, de fato, são amplas e irrestritas. Os clássicos da casa misturam ingredientes como arroz frito com camarão, aspargos, shiitake e alho-poró, além de frutos do mar com pasta de pimenta e manjericão doce.
O segundo motivo para o renovado sucesso da culinária asiática no Brasil diz respeito à crescente preocupação com a alimentação saudável, bastante valorizada no continente. Pelo menos é isso o que diz o chef Norman Vo, que comanda a cozinha do Miss Saigon, em São Paulo, e levou a especialização ao extremo — seu foco são os pratos típicos do sul do Vietnã, como anéis de lula empanados e lagosta no vapor. “Na comida asiática, procuramos brincar com a mistura de sabores”, afirma Vo. A mesma diversidade é o que move o The Bali, também na capital paulista, especializado nos pratos da culinária da Indonésia. “Sou apaixonado pelo mix de temperos”, pontua o chef Bruno Peralta. “Para o nosso menu, trouxe variedade de pimentas e o aromático arroz de jasmim.”
A pandemia de Covid-19 também pode ter contribuído para a recente descoberta da culinária do Oriente. Confinadas em casa, muitas pessoas começaram a explorar novas gastronomias. Nesse processo, o encontro com os asiáticos foi inevitável. Um exemplo: o famoso arroz japonês, conhecido como gohan, se tornou um fenômeno de vendas durante as restrições sanitárias — as pesquisas por pratos feitos com o produto cresceram 50% em 2021, segundo o Google Trends. É fácil entender por que a gastronomia da Ásia conquistou os brasileiros. Além de ser ótima fonte de nutrientes, a culinária local encanta pela explosão de cores, texturas, aromas e sabores diferentes. Bom apetite.
Publicado em VEJA de 27 de julho de 2022, edição nº 2799