O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, que morreu em um acidente de helicóptero neste domingo, 19, governava o país com mão de ferro e era considerado um potencial sucessor do seu aliado, aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do país. Seu óbito encerra uma curta, mas significativa, virada ao conservadorismo, e seu legado linha-dura deve perdurar na nação do Oriente Médio.
Raisi, de 63 anos, foi eleito em junho de 2021, obtendo 62% dos votos no primeiro turno de uma eleição presidencial marcada por um recorde de abstenção e questionamentos sobre a lisura do processo. Apenas 48% dos eleitores votaram no pleito, a menor participação desde o estabelecimento da República Islâmica do Irã em 1979. Enquanto isso, o Conselho Guardião, composto por aliados do líder supremo, vetou a candidatura de diversos candidatos moderados, que faziam oposição a Raisi.
+ O que se sabe até agora sobre a morte do presidente do Irã
Sua vitória consolidou o controle do ultraconservadorismo sobre todas as esferas da República Islâmica. Desde sua primeira disputa presidencial, em 2017, Raisi se apresenta como um candidato anticorrupção e, quando voltou às urnas em 2021, afirmou que tinha “subido ao palco como independente para fazer mudanças na gestão executiva do país e para combater a pobreza, a corrupção, a humilhação e a discriminação”.
Histórico de terror
Nascido em Mashhad, segunda maior cidade do Irã, o presidente estudou no centro teológico de Qom e se tornou aiatolá, um clérigo xiita de alto escalão. Ele participou da Revolução Iraniana de 1979, que se opunha ao Xá, monarca apoiado pelo Ocidente, e trouxe ao poder o regime teocrático sob o comando do aiatolá Ruhollah Khomeini.
Anteriormente, ele foi acusado de atuar como um dos quatro juízes do “Comitê da Morte”, tribunais secretos criados em 1988 que julgavam prisioneiros políticos que já haviam cumprido suas penas. O comitê foi responsável por executar cerca de 5 mil pessoas no país. Sua participação teria acontecido enquanto ele ocupava o posto de vice-procurador-geral de Teerã, aos 25 anos.
+ O que a morte de Raisi significa para o Irã, e quem pode sucedê-lo?
Na sequência, Raisi ocupou o cargo de procurador-geral de 2014 a 2016 e, em seguida, de chefe da Justiça de 2019 a 2021.
Tensões com o Ocidente e Israel
Em 2019, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sanções contra Raisi devido à suas supostas ações contra os direitos humanos, incluindo a execução de menores de idade que cometeram crimes.
O governo Trump também retirou os Estados Unidos de um acordo nuclear com o Irã, estabelecido em 2015, para que fosse possível impor sanções ao país muçulmano. Raisi manteve uma postura dura nas negociações para o restabelecimento do acordo, mas as nações não chegaram a um consenso.
+ A reação do governo brasileiro à morte do presidente do Irã
Com o início da guerra entre Israel e Hamas, as tensões entre o Irã e o Ocidente só aumentaram, devido ao seu apoio declarado e financiamento ao grupo militante palestino.
Em abril, um ataque aéreo atribuído a Israel atingiu a embaixada do Irã na Síria, matando três comandantes da Guarda Revolucionária iraniana. Em resposta, Teerã lançou cerca de 300 de drones e mísseis contra o Estado judaico duas semanas depois.
Protestos
Durante seu período como presidente, Raisi enfrentou protestos em massa na República Islâmica, desencadeados pela morte de Mahsa Amini, jovem curda detida pela chamada “polícia da moralidade” sob acusação de usar seu hijab (véu islâmico que cobre a cabeça) “de forma incorreta”. Apesar das autoridades terem negado que ela foi assassinada, uma investigação das Nações unidas concluiu que ela foi “submetida a violência física, que a levou à morte”.
+ Véu arrancado: a rebelião apoiada no Ocidente contra o regime dos aiatolás
O governo reprimiu os protestos de forma violenta. As Nações Unidas estimam que cerca de 550 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança iranianas e outras 22 mil foram presas. Raisi classificou o movimento de rua como “ato de caos inaceitável”.
Com o crescimento do movimento em defesa das mulheres, o regime lançou uma nova repressão aos códigos de vestimenta feminina.