‘Querido amigo’: Xi Jinping recebe Vladimir Putin em Pequim
Presidente russo tem reunião bilateral com o líder chinês para negociações 'aprofundadas' à margem de fórum comercial
O líder chinês, Xi Jinping, recebeu o presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Pequim, nesta terça-feira, 17, dando início a um fórum econômico multilateral ofuscado pela guerra Israel-Hamas. Ao dar boas vindas “querido amigo”, Xi sinalizou que a aliança sino-russa que se desenvolve desde o início da guerra na Ucrânia pode se aprofundar.
Pequim será sede, nesta semana, do terceiro fórum sobre seu vasto projeto comercial e de infraestruturas, a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI), mais conhecida como Nova Rota da Seda. Lançado em 2013, o plano prevê um investimento da ordem dos US$ 5 trilhões para conectar os continentes por rotas marítimas e terrestres, com objetivo de favorecer exportações chinesas.
Representantes de 130 países comparecerão à reunião, e no topo da lista de convidados está o presidente russo. Esta é sua primeira viagem a um país que é uma grande potência global desde o início da guerra na Ucrânia, que aprofundou seu isolamento internacional.
+ Imagens mostram aumento de atividades nucleares de Rússia, China e EUA
O convite de Putin, que nunca assinou oficialmente a BRI, sublinha a estreita relação de Pequim com Moscou, mesmo à custa da boa vontade com o Ocidente.
Os dois líderes se reuniram no evento de abertura do fórum, nesta terça, e um vídeo publicado pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia capturou o momento em que apertam as mãos e trocam gentilezas. Eles também participaram de uma foto em grupo com outros líderes presentes na cúpula.
Num banquete oficial, Xi fez um brinde no qual aludiu aos recentes conflitos geopolíticos, mas acrescentou que “a [tendência] histórica de paz” era “imparável”.
“Embora o mundo hoje não seja pacífico, a pressão descendente sobre a economia global esteja aumentando e o desenvolvimento global enfrente uma grande quantidade de desafios, acreditamos firmemente que as tendências históricas de paz, desenvolvimento, cooperação e vitórias mútuas são imparáveis”, disse Xi, de acordo com a agência de notícias estatal Xinhua.
+ Nações menos unidas: discurso de Lula na ONU reflete Guerra Fria 2.0
Em entrevista à mídia estatal chinesa, Putin descreveu Xi como um “verdadeiro líder”. O chefe do Kremlin também elogiou o que descreveu como a emergência de um “mundo multipolar”.
Xi e Putin defendem este conceito, especialmente desde o início da guerra na Ucrânia, como uma alternativa à ordem internacional liderada pelos Estados Unidos. Um “mundo multipolar” em que os países do Sul Global tenham mais agência faz parte do apelo de Xi aos participantes do fórum desta semana.
A China é o maior parceiro comercial da Rússia, e as trocas entre os países atingiram um recorde de US$ 190 bilhões no ano passado. Em Pequim, Putin tem a missão de fortalecer o já forte vínculo com o seu vizinho, embora os analistas digam que Moscou é, progressivamente, o parceiro com menor poder de manobra na relação.
Por sua postura sobre a guerra na Ucrânia, Pequim tem suscitado críticas dos países ocidentais. A China insiste que é neutra, embora se recuse a criticar a invasão de Moscou.
+ EUA alertam China a não enviar armas à Rússia para guerra na Ucrânia
Guerra Israel-Hamas
Na quarta-feira, 18, Putin e Xi farão uma reunião bilateral comprida às margens da cúpula. Enquanto isso, a guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas paira sobre Pequim.
“Durante as negociações, será dada especial atenção às questões internacionais e regionais”, disse o Kremlin, sem dar mais detalhes.
Enquanto o mundo ocidental, encabeçado pelos Estados Unidos, declarou apoio a Israel desde 7 de outubro – quando o Hamas lançou o ataque mais mortífero da história do país, matando mais de 1.400 israelenses, na sua maioria civis –, Moscou e Pequim intensificaram as críticas ao Estado judeu e à falta de direitos da população palestina.
+ O que esperar da viagem de Biden a Israel em meio à guerra?
Washington pediu à China para usar sua influência com objetivo de controlar a escala da guerra. Até esta terça-feira, mais de 1 milhão de pessoas na Faixa de Gaza, que continua bloqueada por Israel, foram deslocadas por bombardeios implacáveis em retaliação aos ataques do Hamas, que controla o território palestino.
A China tem tentando assumir um papel de player diplomático no Oriente Médio, sentindo um vazio deixado pelos Estados Unidos nas últimas décadas. Neste ano, intermediou um acordo entre o Irã, principal financiador do Hamas, e o seu inimigo regional, a Arábia Saudita. Além disso, seu enviado para o Oriente Médio, Zhai Jun, viajará à região esta semana, ainda sem data confirmada. Segundo a emissora estatal chinesa CCTV, ele deve pressionar ambas as partes do conflito por um cessar-fogo e por negociações de paz.
Na semana passada, Israel disse estar “profundamente decepcionado” com a China por não ter condenado o Hamas. Historicamente, devido ao seu apoio à causa palestina, Pequim não faz declarações do tipo. Mas, no sábado 14, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, conversou com seu homólogo na Arábia Saudita e disse que “as ações de Israel foram além da autodefesa”.
A Rússia, que tradicionalmente mantém boas relações com as autoridades israelenses e palestinianas, apelou a um cessar-fogo imediato em Gaza. Pequim seguiu por um caminho semelhante, fazendo um apelo pela paz e disse que apoia uma solução de dois Estados para o conflito.