Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um equipamento capaz de ajudar pacientes diagnosticados com pectus excavatum (do latim, peito escavado), uma deformidade genética que afeta uma em cada 700 pessoas. O problema é caracterizado por uma redução significativa no volume do tórax, causada pela retração do esterno — o osso que “divide o peito ao meio” — devido ao crescimento anormal das cartilagens da região. “Com esse dispositivo, conseguimos reduzir a necessidade de operação em 30% dos casos e melhorar o resultado da cirurgia para os pacientes mais graves”, diz José Ribas Milanez de Campos, professor da disciplina de Cirurgia Torácica da Faculdade de Medicina da USP, um dos responsáveis por desenvolver o equipamento.
O único sinal da deformidade, o afudamento da região torácica, aparece durante a infância, entre 4 e 6 anos. A condição progride ao longo do desenvolvimento e se estabiliza aos 18 anos. Estima-se que 35% dos portadores manifestem a forma mais grave do problema, quando ocorre descolamento do coração para o lado esquerdo, compressão pulmonar e dificuldade em fazer exercícios físicos intensos. Há também relatos de dor na região torácica e arritimias. Em todos os casos, dos mais leves aos mais severos, a deformidade também causa danos psicológicos e redução da qualidade de vida, uma vez que os pacientes tendem a ficar curvados, prejudicando a coluna, e evitam frequentar locais como praias e psicinas.
Atualmente, as principais opções de tratamento são cirúrgicas. Nesses casos, há inserção de uma placa curva de metal na parte interna do tórax. O objetivo é forçar o esterno para fora. A barra permanece no paciente durante 3 anos – tempo necessário par a correção do problema – e depois é retirada. Entretanto, este procedimento traz alguns riscos como o rompimento ou a rotação da barra, além da limitação dos movimentos no primeiro mês e dor intensa nos primeiros dias de pós-operatório. O novo aparelho, desenvolvido por pesquisadores do departamento de Cirurgia Torácica e de Terapia Ocupacional do Instituto de Ortopedia da USP, coordenados pela médica Maria Candida Luzo, atua na compressão do tórax com estruturas elásticas, sem a necessidade de cirurgia. Ele melhora a postura, a estrutura óssea e muscular, a respiração e também promove flexibilidade aos pacientes. “A órtese funciona como um aparelho dentário. Em conjunto com exercícios específicos, o tratamento diminui o risco de complicações pós-cirúrgicas de 17% para 4%”, diz Ribas. O princípio de compressão da parede torácica com a utilização de outros tipos de órteses (método Haje) foi desenvolvido há cerca de trinta anos pelo ortopedista brasileiro Sydney Haje.
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Ao dar início ao tratamento com o dispositivo, o paciente deverá utiliza-lo por até 6 horas por dia e também para dormir. Os primeiros resultados são observados após três meses de uso. No total, a órtese deverá ser usada por, em média, um ano. A duração é definida de acordo com a idade do paciente. Quanto mais novo, mais rápido ele receberá alta. Segundo Ribas, se o defeito for grave, o ideal é começar o tratamento por volta dos seis anos de idade. Se for leve ou moderado, entre 11 e 14 anos, quando acontece o estirão da puberdade. O aparelho também pode ser indicado para adultos. Nesses casos, a terapia é mais duradoura.
A órtese já foi importada pela Universidade de Aarhus, na Dinamarca e pela Mayo Clinic, nos Estados Unidos. No Brasil, está disponível no Hospital das Clínicas, em São Paulo. No mercado pode custar entre R$ 300 e R$ 350.