O ar poluído que respiramos é cancerígeno. Isso é sabido desde 2013, quando a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer classificou-o como um “grande problema de saúde pública”. Agora, cientistas descobriram que mulheres que moram e trabalham em ambientes com altos níveis de poluição atmosférica por partículas finas (PM2.5), que penetram profundamente no sistema respiratório e podem atingir os alvéolos pulmonares, têm maior risco de desenvolver câncer de mama, se comparadas com aquelas que respiram ares mais puros.
A conclusão é do primeiro estudo que analisa o impacto da poluição residencial e no local de trabalho sobre o câncer de mama. O trabalho científico, realizado pelo Departamento de Prevenção do Câncer e Meio Ambiente do Léon Bérard Comprehensive Cancer Centre, na França, sob a coordenação da médica Beatrice Fevers, foi apresentado nesta segunda-feira, 23, no Congresso Europeu de Medicina Oncológica (ESMO).
Os pesquisadores compararam a exposição à poluição residencial e no local de trabalho de 2.419 mulheres com o diagnóstico de câncer de mama e 2.984 mulheres sem o histórico da doença, entre 1990-2011. Os resultados mostraram que o risco de câncer de mama foi 28% maior em locais que apresentavam níveis mais elevados de partículas finas, maiores 10 μg/m3.
De acordo com as diretrizes de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde (OMS), a concentração segura das partículas no ar deve ser igual ou inferior à 5 μg/m3. Mulheres expostas a partículas maiores apresentaram riscos menores à doença.
Como causa o câncer?
Segundo o médico oncologista Gilberto Amorim, da Oncologia D’Or, o risco de câncer é maior em locais mais poluídos porque as micropartículas penetram profundamente nos pulmões, alcançam a corrente sanguínea e podem ser absorvidas por tecidos como os das mamas.
Estudos prévios já haviam demonstrado mudanças na arquitetura da mama atribuíveis à poluição. “Ainda é preciso estudar se esses poluentes permitem que células do tecido mamário, já predispostas a mutações carcinogêneas, se expandam promovendo o crescimento tumoral ou se causam um processo inflamatório crônico”, explica o médico.
O especialista admite que até hoje os cientistas desconhecem o mecanismo que leva esses micropoluentes e micropartículas de plástico a provocar vários tipos de câncer. Com as crescentes evidências epidemiológicas e biológicas dessa ligação das nanopartículas como promotoras da doença, porém, há fortes evidências clínicas para reduzir a poluição e, consequentemente, a incidência do câncer. “Somando-se os cânceres de mama e pulmão estamos falando de 4 milhões de casos ao ano no mundo com a tendência de crescimento populacional e de industrialização, em especial, nos países em desenvolvimento”, conclui Amorim.