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Profissionais de saúde se mobilizam contra dietas ‘infalíveis’ da internet

Em movimento crescente, eles refutam as dietas que excluem ingredientes sob o pretexto de salvar o corpo e condenam o terrorismo nutricional da web

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h50 - Publicado em 17 Maio 2024, 06h00
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  • RESTRIÇÃO - Terrorismo alimentar: comportamento é insustentável e pode abalar a saúde
    RESTRIÇÃO - Terrorismo alimentar: comportamento é insustentável e pode abalar a saúde (Panupong Piewkleng/Getty Images)

    Basta uma zapeada nas redes sociais para que uma enxurrada de conselhos alimentares “infalíveis” apareça no feed. São fórmulas para secar a barriga, ganhar massa muscular e contornar a silhueta que, em comum, pregam a exclusão de certos nutrientes alçados a bode expiatório. Não é um fenômeno novo, mas que se intensificou à base de marketing digital e dicas de influencers. É contra essa onda que se mobiliza uma cruzada de profissionais de saúde. Eles buscam desconstruir, em posts, artigos científicos e livros para o público geral, as falácias nutricionais reproduzidas por aí. Um bom exemplo desse movimento é o recém-publicado Pare de Engolir Mitos (Editora Sextante), da nutricionista francesa radicada no Brasil Sophie Deram. Munida de estudos, a autora propõe minar um tipo de fabulário e terrorismo que se abateu sobre as refeições mundo afora.

    Não há tanto segredo sobre o que compõe uma alimentação equilibrada. A ideia é privilegiar comida fresca e o mais natural possível e limitar os excessos, sobretudo de produtos ultraprocessados. Não é um roteiro simples de se incorporar à rotina, diga-se, mas vale a pena aderir a ele: estudos associam os maus hábitos à mesa ao maior risco de obesidade e uma lista de doenças crônicas. O argumento realçado por especialistas como Sophie é que o ato de nutrir o corpo passou a ser pautado pela seletividade e pela restrição, desconsiderando a complexidade da alimentação e as realidades individuais. “A definição de saúde é de um bem-estar físico, mental e social. Comer passa por isso”, diz Sophie, pesquisadora da USP. “Temos de escutar o organismo, não ficar calculando calorias, o que aumenta o risco inclusive de transtornos alimentares.”

    Eleger um vilão da dieta é moda antiga. Nos idos de 1960 e 1970, a gordura saltou como o inimigo do coração e outros órgãos, e ainda hoje carrega fama suspeita. É uma visão míope: ela ignora que, embora alguns ácidos graxos possam ser prejudiciais em demasia, outros são bem-vindos quando batem ponto — caso do azeite de oliva e dos pescados. O mesmo princípio vale para os carboidratos, comprovadamente fontes de energia para o corpo humano. Esses nutrientes figuram no topo do corte abrupto proposto pelo radicalismo alardeado no universo fitness. No entanto, tais escolhas podem resultar em um desbalanço que, no médio prazo, abre portas para aquela vontade incontrolável de assaltar a geladeira quando algum desafio emocional aparece. Ou seja, o plano não se sustenta.

    Há os heróis desse enredo, claro. O novo queridinho é a proteína. Não se fala em carne, frango ou peixe, mas em pedaços porcionados com auxílio da balança e cálculos de consumo diário que incluem suplementação com whey protein e barrinhas proteicas para o lanche. “A indústria da dieta, dos suplementos e dos shakes incentiva melhorar o corpo, como se ele precisasse ser melhorado e como se aquilo fosse mais saudável do que comer arroz e feijão”, critica Sophie.

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    COMBO EFICAZ - Prescrição: comida regrada e exercício não excluem prazer
    COMBO EFICAZ - Prescrição: comida regrada e exercício não excluem prazer (Westend61/Getty Images)

    Daí a campanha da nutricionista e de outros experts em tirar o foco absoluto nos nutrientes e resgatar o que chamam de comida de verdade. Isso passa por combater os mitos da alimentação. Nessa linha, um grupo de pesquisadores americanos se reuniu para expor dez conceitos fajutos disseminados no universo virtual, tais como demonizar a gordura e banir o carboidrato. O duro é que essas receitas são atraentes pela suposta solução imediata. “As pessoas procuram caminhos que impliquem menor empenho e menor modificação de padrões no dia a dia”, afirma Antonio Herbert Lancha Júnior, professor de nutrição da USP. Só que não há passe de mágica — e aí está o efeito sanfona para comprovar a falência das dietas. O que os estudiosos defendem de forma unânime é que a busca por saúde passa por uma mudança de mentalidade, em uma espiral de novos hábitos que devem ser incorporados sem neura e com prazer. “A mudança está dentro das pessoas, não no supermercado. Uma dieta saudável não proíbe alimentos”, diz Lancha. Se for cortar algo, que sejam as dicas das redes.

    Publicado em VEJA de 17 de maio de 2024, edição nº 2893

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