Seu restaurante em São Paulo foi multado por passar do horário de funcionamento. Está difícil se adaptar ao novo normal? É complicado fazer tantos ajustes de uma hora para outra, sem dúvida. Para conseguir encerrar o expediente às 10 da noite, preciso contar com a pontualidade dos clientes, que às vezes demoram a sair. Agora, já aviso para pedirem a conta quinze minutos antes da hora de terminarmos os trabalhos. Quanto à multa, paguei e vida que segue.
Dá para proporcionar uma experiência de alta gastronomia com tantos protocolos? Dá. Com a higienização o tempo todo do salão, perde-se um pouco do glamour, é verdade. Mas observo que as pessoas se acostumam aos novos ritos, especialmente quando há boa comida à mesa.
Seguirá com o delivery? Não. É o momento de reorganizar o restaurante, o negócio principal. Tive prejuízo neste período, e o delivery, cá entre nós, dá dor de cabeça. Quando a embalagem chega revirada, ninguém liga para o aplicativo de entregas para reclamar, mas para o Jacquin.
Desde que estreou a nova temporada do MasterChef, chovem críticas nas redes pelo fato de os participantes não usarem máscara. O público tem razão? Todos que entram nos estúdios são testados semanalmente. Meu nariz e meu braço já não aguentam mais. Só não usamos máscara na frente das câmeras. Nos bastidores, andamos sempre com o rosto coberto. A verdade é que é difícil cozinhar com ela.
Como é ser pai mais velho de gêmeos de 1 ano e meio? Hoje, consigo dar mamadeira para as crianças, coisa que não foi possível com meu primogênito, de 22, por eu sempre estar trabalhando. A pandemia me aproximou dos pequenos. Já Edouard, o mais velho, que mora na França, não vejo há seis meses.
Acredita que algumas das transformações pós-pandemia serão permanentes? Não vejo mais a possibilidade de uma vida sem álcool em gel e com as pessoas entrando em casa com seus sapatos. O consumo também deverá se manter mais racional. A humanidade se adapta a tudo.
Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701